segunda-feira, 4 de julho de 2011

Estou entalada. Estou entalada e preciso de falar.
Reencontrei um rapaz (nunca chegou a ser meu amigo mas sim conhecido) do tempo do liceu. Divorciado com filhos. Era lindo. Combinamos um café ao fim da tarde na praia. Mais de 20 anos tinham passado. Continuava giro mas com ar cansado e gasto. Reparo na roupa de marca e no relógio com cara de quem custa uns bons euros.
Das primeiras coisas que ele me diz é: "estás mais gordinha" fiquei branca e sem reacção e cá pra mim: "começamos bem".
Bom, a conversa vai adiantando e as palavras continuavam a bater na minha cabeça. Dou por mim e só ouço um blablablabla. Adiante, concentra-te Fiona Maria. Não sejas assim, não sejas derrotista, faz de conta que ele não disse nada. E continua o relato, eu eu eu, blablabla, e separei-me, e a X isto e a X aquilo. OK, está com vontade de desabafar mas eu não sou a melhor amiga dele. Nem a mãezinha.
Continua o relato com uma história estranhíssima de contas bancárias congeladas, casas á venda, pedidos de insolvência e sei lá mais o quê, que não tem dinheiro para nada, nem sequer o condomínio paga. E trabalhar? Não gosta do emprego, óbvio! Ganha pouco. Para quê sair de casa de madrugada se depois das 9h não há trânsito? E num tom gabarolas continua. Eu, eu, eu. Sou depressivo, tomo mil pastilhas por dia. Para a insónia, para o stress, para a depressão, para dormir. Além disso fumo como um cavalo. 
Pronto, acabo a conversa a dizer que estou sem reacção. Que estou parva com tudo. Não sei se sinto alguma coisa por ele. Nada comparado com o meu último date que foi quase perfeito. No fim desse date ria-me, sonhava e só pensava nas parvoíces ditas e no meu estado de adolescência dos meus trintas e muitos. Fazia-me rezar por um segundo date. Este definitivamente não mas...
Num segundo encontro vamos a um café de fumadores (saio de lá a tresandar a tabaco) e continua ele. Vi umas fotografias tuas no facebook em que estavas mais magra! (oh valha-me Cristo) estavas tão gira! E porque é que não vais a um nutricionista? Oh e o teu cabelo era mais bonito comprido! Porque cortaste? E esse perfume... Parece perfume de mãe. E eu, feita parva, lá me justificava.
E ele lá contava a história da X. Nitidamente recalcado. E co outro relógio com ar de caro e definitivamente não é falso. E pumba, mais um whiskey. Estamos a um dia de semana às 22h00. E eu, a àgua, era a anormal. E blablabla. E já vais embora? Mas é só meia noite! Sim, eu tenho que acordar muito cedo para ir trabalhar e estar no trabalho às 9h00.
Terceiro date. Aparece com um smartphone novo e um terceiro relógio diferente. E está sem cheta e na insolvência. Pois claro que está. Vem com uma história que me conta como se emagrece. Aí eu respirei fundo, não consegui ficar calada. Oh meu amigo, outra vez? Mas isso incomoda-te assim tanto? Não sou magricela mas não sou nenhuma baleia nem pra lá caminho. Tenho uns quilos a mais sim. Ficou branco. Gago. E o perfume não te agrada? Nem o cabelo? Já agora que mais não te agrada? O meu relógio? A minha roupa? O facto de eu trabalhar para ganhar dinheiro e ter a vida profissional que gosto? Que me permite ter uma vida confortável sem contar os tostões ao fim do mês nem dar contas a ninguém? Resposta: mas tu o que é que achaste quando disse que estavas mais gordinha, que és gorda? Nãããããaã!!!!!!! Longe de mim pensar isso! Nem sou gaja nem nada! Foda-se! 
Bom, lá acalmou nas suas baboseiras. Até que me conta que por causa da medicação demora a ter erecção. Hello????? Que mulher quer ouvir isto numa mesa de café?????? 
Dou por mim a por o telemóvel sem som ou desligado para não ter de atender as chamadas dele. Depois, ai depois, vem o sentimento de culpa. Depois diz que estás solteira, que estás sozinha. Dá lá outra oportunidade. Mas isto sempre com um nó na garanta, um peso no estômago. Dei outra oportunidade. Mais baboseiras. Estamos 6 pessoas e ele a galar a mulher do amigo. Bem vou-me embora, digo eu. Eu levo-te ao carro. Ok! E já vais? e porquê? Porque amanhã trabalho e acordo cedo. Oh tu sim, és um bom partido! Bom carro! 
E assim decidi que era a última vez que me apeteceu estar com ele. Fui para fora em trabalho e fui de férias 10 dias. Quando cheguei tinha um email dele a perguntar se já tinha chegado. E eu disse que sim e que estava a custar voltar à realidade. Entretanto passou uma semana. Ele não disse mais nada e eu também não. 
Ao olhar para este cenário só penso: antes só que mal acompanhada.
Agora quero que me digam: estou a exagerar?